Investigação

'Quero acreditar que meu neto não foi abusado, mas, ao que tudo indica, ele foi mais uma vítima'

Marilice Daronco

O avô de 66 anos que procurou a Polícia Federal para relatar suas suspeitas sobre um homem que oferecia aulas de graça de Muay Thai, no condomínio do prédio onde a família morava, conta que achava estranho meninos _ crianças e adolescentes _ estarem frequentando a casa do professor sem qualquer supervisão dos pais.

Poderia ter sido apenas uma proteção exagerada de um avô. Mas foi devido a essa inquietação que a Polícia Federal abriu uma investigação que levou à prisão do homem de 36 anos e da mulher dele, de 24, por estupro de vulnerável contra cinco crianças de 10 a 11 anos, estupro qualificado contra dois adolescentes de 14 a 17 anos e ato libidinoso contra uma criança de 7 anos. Além disso, eles são suspeitos de lesão corporal e de terem fornecido bebidas alcoólicas e cigarros às vítimas.

O aposentado da Brigada Militar reclama de descaso da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). A titular da DPCA, Carla Dolores Castro de Almeida, nega que tenha ocorrido omissão e afirma que, sempre que procurada, a delegacia dá total atenção a casos de suspeita de crimes contra crianças.

Diário _ O que fez com que o senhor desconfiasse que algo podia estar errado com o suposto professor?
Avô
_ Artes marciais é coisa séria. É preciso ter conhecimento para ensinar. Ninguém sabia onde ele tinha aprendido o que estava ensinando. Além disso, os meninos passavam indo até a casa dele, sem nenhuma supervisão. Isso parecia estranho. Além disso, ele levava os meninos até uma igreja. Um dia, fui até essa igreja, e ele saiu às pressas com os meninos. Achei muito estranho. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi que ele sempre procurava por filhos de mulheres que tinham se separado e que viviam na correria do trabalho, para oferecer as aulas. 

Diário _ O senhor diz que polícia o tratou com descaso. Por quê?
Avô
_  Esse homem poderia ter sido preso há cinco meses se alguém na delegacia tivesse me ouvido. Mas não deram importância para o que eu contei. Mandaram que eu ligasse para o *100 para fazer uma denúncia anônima, mas eu não queria fazer uma denúncia anônima, queria era saber quem era aquele homem que estava em contato com tantas crianças. Se não fosse a Polícia Federal, ele ainda estaria solto.

Diário _ O seu neto, alguma vez, contou para o senhor ter sido abusado?
Avô
_ Nunca. Ele nunca disse uma única palavra sobre isso para nós, da família. Eu também não quis saber o que ele disse para a psicóloga. Quero acreditar que meu neto não foi abusado, mas, ao que tudo indica, ele foi mais uma vítima.

Diário _ Quando o senhor soube que o suspeito havia sido preso, qual foi sua reação?
Avô
_ Quando eu trabalhava na Brigada Militar, em Porto Alegre, uma vez encontramos uma menina de 16 anos amarrada em uma cama, estuprada, com o corpo cheio de mordidas. Eu pensei que queria, pelo menos uma vez na vida, ajudar a prender um cara desses. Foi acontecer, depois de aposentado, justamente com o meu neto. São coisas que acontecem na vida da gente. 

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